17.12.23

canti italiani

Il saluto - Davide Rondoni



Poi il cuore si fa silenzioso

e tutti i clamori, gli stupiti

mancamenti, e questi uccelli impazziti

e dolci di parole chiudono

le ali –



e stanno a guardarti, tornati

immobili sui rami del cuore

osservano fermi con occhietti animali

via quel tuo andare



ma al saluto, ultimo, meraviglia

uguale che dai con il viso sulla spalla perfetti

sarebbero di nuovo già pronti ad alzarsi

far casino, strepitare.



oOo



a benção



tivemos então o coração silenciado


e todos os clamores, todos os espantos

reprimidos, todos os pássaros enjaulados

com todos os seus cantos sem encanto

e todos os seus pobres vôos atrofiados -



mas cuidamos bem deles mantendo-os


imóveis sobre as ramas do coração

observando-os com nossos olhares devotos

seus cantares desprovido de qualquer emoção



e à hora da
última benção, abducente,

tal qual as nossas, dos sonhos perfeitos,

já a esta hora estariam prontos, novamente

a erguerem-se em bordéis, a clamarem seus direitos.



trascriazione: eduardo miranda

28.3.21

Marco Rheis - Uma Homenagem

Marcão num encontro virtual, uma semana antes do seu falecimento.

Muitos Anos de Vida

No dia
13 de Abril de 1993
eu acordei
às 7:20
33 anos depois.
_____

Viajante

Vejo este povo espalhado pelos lugares
onde muda de cor e feição mas muda nunca a explorada fé
na esperança do resistente olhar que desafia o descaso :
             “há uma recompensa para o justo
             sim, há um Deus que julga na Terra.”

O peito aparta a dor desta minha gente
- que caminha descalça na terra do chão -
mostrar seus costumes onde planje cega justiça
feita pela lei do homem que não mata a fome que mata
neste lugar onde o orgulho é ferido.

Não sinto peso de estar distante
onde tange caminho de luta sobra rastro e dor
ceifando chão onde morre desejo vem o destino
indicando naquela que leva e trás
o passo a passo errante que empurra:
vai caminhar!
_____

Conto de Ano Novo para São Paulo

Corticos,
crianças e rostos
dos restos rotos dos Campos Elíseos.

Famintos (com vergonha) e
pratos fartos (com desconfiança)
mostram os olhos.

São Bentos, Joãos e Ifigênias.
Duques e Princesas.

Ainda planalto cercado de serras,
envolto em fumaça.
_____

Pecado

Se você for pecado,
atire
a primeira pedra
e dê
o primeiro beijo.
_____

Bilhete

Curta!
A curta vida
é.
Joguei
muita coisa fora.

Sejam felizes.

2.5.20

Quarentine - Eavan Boland

Eavan Boland, who redefined Irish poetry from a woman's point of ...
“A vida do poeta é sempre uma convocação para tentar estabelecer alguma verdade que era verdadeira antes, e que continuará sendo verdadeira. Nenhum poeta deveria ter que se preocupar com o respeito público, ou com a falta dele, na qual nossa arte é realizada.”
Eavan Boland (1944-2020).

Esse era um princípio pelo qual ela viveu e escreveu...

Quarantine
by Eavan Boland

In the worst hour of the worst season
of the worst year of a whole people
a man set out from the workhouse with his wife.
He was walking - they were both walking - north.

She was sick with famine fever and could not keep up.
He lifted her and put her on his back.
He walked like that west and west and north.
Until at nightfall under freezing stars they arrived.

In the morning they were both found dead.
Of cold. Of hunger. Of the toxins of a whole history.
But her feet were held against his breastbone.
The last heat of his flesh was his last gift to her.

Let no love poem ever come to this threshold.
There is no place here for the inexact
praise of the easy graces and sensuality of the body.
There is only time for this merciless inventory:

Their death together in the winter of 1847.
Also what they suffered. How they lived.
And what there is between a man and woman.
And in which darkness it can best be proved.

24.4.20

3.5.19

Âşık Veysel - uma jóia rara


Completamente por acaso me deparei com o poeta e músico turco Âşık Veysel (1894-1973), ouvindo ao fan-tás-ti-co “The Blue of the Night” com Bernard Clarke, na RTÉ Radio 1 FM. Imediatamente a voz de Âşık e o sentimento que suas músicas transmitem - ele foi um Ashik, um cantor que acompanha sua própria música com um instrumento, segundo a tradição turca - me tocaram, e passei a ouvi-lo quase que obcecadamente!

A boa notícia é que grande parte de sua música pode ser ouvida gratuitamente no Spotify ou no YouTube!

Inspirado no sentimento que sua música causa, traduzi - direto do turco, é claro - um poema de Âşık:

Caminho um caminho longo e estreito


Caminho um caminho longo e estreito
Dia e noite caminho este caminho
Não sei em que parte do caminho estou:
Dia e noite caminhando este caminho.

No momento que vim a este mudo,
Já comecei a andar, e logo entrei
Neste palácio de duas portas distintas:
Dia e noite caminhando este caminho.

Eu caminho mesmo dormindo
E mesmo de olhos bem fechados
Eu acabo vendo os que se foram:
Dia e noite caminhando este caminho.

Quarenta e nove anos nessa estrada
Entre desertos, montanhas e vales,
Por terras estranhas fiz meu caminho:
Dia e noite caminhando este caminho.

Profundamente penso neste caminho,
Cujo destino parece estar muito longe,
Embora a estrada pareça curta e ampla:
Dia e noite caminhando este caminho

A esta altura do caminho, Veysel se pergunta
Se deveria rir ou chorar... O que seria o certo?
Com um destino ainda por alcançar:
Dia e noite caminhando este caminho.


Uzun ince bir yoldayım


Uzun ince bir yoldayım,
Gidiyorum gündüz gece,
Bilmiyorum ne haldeyim,
Gidiyorum gündüz gece.

Dünyaya geldiğim anda,
Yürüdüm aynı zamanda,
İki kapılı bir handa
Gidiyorum gündüz gece.

Uykuda dahi yürüyom,
Kalmaya sebep arıyom,
Gidenleri hep görüyom,
Gidiyorum gündüz gece

Kırk dokuz yıl bu yollarda
Ovada dağda çöllerde,
Düşmüşüm gurbet ellerde
Gidiyorum gündüz gece.

Düşünülürse derince,
Uzak görünür görünce,
Yol bir dakka miktarınca
Gidiyorum gündüz gece.

Şaşar Veysel iş bu hale
Gah ağlaya gahi güle,
Yetişmek için menzile
Gidiyorum gündüz gece

7.9.18

Ella Fitzgerald: Every Time We Say Goodbye (1965)





Every time we say goodbye

Every time we say goodbye
I die a little
Every time we say goodbye
I wonder why a little

Why the Gods above me
Who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go

When you're near
There's such an air of spring about it
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it
There's no love song finer
But how strange the change from major to minor
Every time we say goodbye

When you're near
There's such an air of spring about it
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it
There's no love song finer
But how strange the change from major to minor
Every time we say goodbye

Toda vez que dizemos adeus

Toda vez que dizemos adeus
Eu morro um pouquinho
Toda vez que dizemos adeus
Eu questiono um pouquinho

Por que Deus, lá no céu
Me deu um destino assim
Deixar-me jogado ao léu
Quando estás longe de mim

Mas quando você está por perto
A primavera sente sua presença
Até os pássaros fazem concerto
Pois também sentem sua presença
Mas essa bela canção de amor
Também pode cantar a dor
Toda vez que dizemos adeus

Mas quando você está por perto
A primavera sente sua presença
Até os pássaros fazem concerto
Pois também sentem sua presença
Mas essa bela canção de amor
Também pode cantar a dor
Toda vez que dizemos adeus

8.5.18

'As You Like It', de Shakespeare (trecho)

O trecho aqui traduzido pertence à Cena Sete do Ato II. Para dar contexto, uma fala antes, outra personagem afirma:

"Vês que não somos infelizes sozinhos:
neste teatro amplo e universal
há desfiles mais lamentáveis do que
os que encenamos.”


E no monólogo que segue, a personagem 'Melancholy Jaques', uma das principais da peça, escancara seu desânimo...


"O mundo é um palco, e nós, meros atores
entrando e saindo de cena. E nestas cenas o homem pode
representar vários papéis, encenados em sete estágios:
Primeiro o bebê, regurgitando e chorando no colo da mãe;
depois o menino preguiçoso na escola, mochila em mãos,
ainda sonado, rastejando-se como uma lesma para a aula;
depois o amante, empenhado num vai-e-vem alucinante,
babando como um animal sobre o corpo da amante;
depois o soldado, cheio de juramentos duvidosos,
camuflando-se como um leopardo, zeloso de sua honra,
súbito e rápido em suas disputas, buscando reputação
rápida e qualquer, mesmo que na boca de um canhão;
e depois o Justo, de barriga redonda e virilmente castrado,
de olhos severos e barba aparada, de aforismos sábios
e argumentos modernos. E assim esse homem cumpriu seu papel,
o sexto estágio deixa-o de calças largas e desengonçadas,
de óculos no nariz e bolsa tiracolo, a virilidade aposentada,
pois o mundo agora mostra-se demasiado amplo para ela,
e aquele vozeirão másculo agora soa esgarniçado,
lembrando novamente os sopros e assobios da infância.
E a última cena do espetáculo começa, para finalizar
essa estranha história de inesperados acontecimentos,
também chamada Segunda Infância e o Mero Esquecimento:
sem dentes, sem visão, sem gosto... sem coisa alguma."


[“As You Like It”, Ato II, Cena VII, in “The Complete Works of William Shakespeare”, edited by W. J. Craig, M.A., Magpie Books, London, 1992, 1142 pp.]


All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. At first the infant,
Mewling and puking in the nurse's arms.
And then the whining school-boy, with his satchel
And shining morning face, creeping like snail
Unwillingly to school. And then the lover,
Sighing like furnace, with a woeful ballad
Made to his mistress' eyebrow. Then a soldier,
Full of strange oaths and bearded like the pard,
Jealous in honour, sudden and quick in quarrel,
Seeking the bubble reputation
Even in the cannon's mouth. And then the justice,
In fair round belly with good capon lined,
With eyes severe and beard of formal cut,
Full of wise saws and modern instances;
And so he plays his part. The sixth age shifts
Into the lean and slipper'd pantaloon,
With spectacles on nose and pouch on side,
His youthful hose, well saved, a world too wide
For his shrunk shank; and his big manly voice,
Turning again toward childish treble, pipes
And whistles in his sound. Last scene of all,
That ends this strange eventful history,
Is second childishness and mere oblivion,
Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.