19.8.06

despojamento

...e por outro lado, outras bandas & outros ares
outros todomundo perguntavam, apesar dos pesares:
e tu, amiga, sabes donde estas metendo tua colher?
e tu dizia, preocupem não, sei o que estou a fazer.

embora saber sabia, o que prever não podia era donde
tal viagem ia dar, no coração é certo, se perto ou longe
do núcleo, ele mesmo o divisor do que é eterno ou efêmero,
que só de a dúvida brotar já fica o coração mais enfermo...

e coisa vai, coisa ia, tudo bem regado a certa poesia,
a tal do dia a dia, que encanta, enfeitiça e alumia
e se já se vai meio sem rumo, ponto sem nó, fruta sem sumo
aí é que o bicho pega, a cabra cega e a cobra leva fumo.

e mesmo sem crer em dito popular, maldito ou bendito que seja
entrega-se a alma e tudo mais que nela se carrega, de bandeja,
e ao entregar tão valoroso bem a um outro, esse tal de Alguém,
vê-se que também se queria que esse Alguém lhe desse o mesmo bem,

mas se de esperar a gente se cansa, contravontades de amores
então luta-se contra a vontade, a evitar devastações maiores
e parte-se, divide-se, subtrai-se então, e sem somatória
vai-se à procura de algo(uém) pra ajuntar e fazer história.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, sabbato, dezº nonº dia do octº mez d este anno de MMVI

16.8.06

"eu vivo em trincheiras provisórias "
antônio risério


todo morto traz na cara
a marca do que viveu
cujo cunho pode estar no peito
feito o cunho que está no meu

todo morto tem uma vida
dia ou outro rogada a deus
heréu cabresto da própria sina
enzima azêda que acometeu

todo morto bem morrido
é jazido na jazida que escolheu
aquilo que te mata, meu amigo
te digo que também mata eu.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, qvarª feira, dezº sesº dia do octº mez d este anno de MMVI

15.8.06

los tejidos templarios

achega-te a mim nega, diz em primeiro plano -
titubeante mas fluente - que sou, que faço, me abunda
incha minha bola de festim com estalido catalano
(estou absolutamente apático nesta segunda)

dou de comer & de beber a todo o ócio distraído
tapas & beijos & cavas a alegrias passageiras
imagino-me como uma puta de avenidas estrangeiras
a exibir um falso-brilhante já gasto e abatido

fecho as janelas, deito-me ao chão do equador
inevitavelmente ao sul, tanto por aquis como por lás
sempre voltarei para os flamboyants dos meus orixás

já posso me ver como um gris de flamejante topor
a consumir meus dias avindos e voluntários
lleno de estampas en los tejidos templarios.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, terçª feira, dezº qujmto dia do octº mez d este anno de MMVI

13.8.06

retirante

para meu pai, no seu dia...

e se quando aqui chegou
tinha algo pra falar, calou:
é que o coração desdentado
desconhecia o verbo enroscado
na garganta

e aquele mundo antes pequeno,
ameno, que lhe possibilitava, matou.
:deixou de sonhar o horizonte númeno
autógeno da possibilidade iminente
e lembrou

de um passado saudoso, e chorou
o choro dos bravos, mas lutou
pelo que veio buscar, eminente
veio, viu, venceu: plantou fruto donde
nasci eu...

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, domjngo, dezº terçº dia do octº mez d este anno de MMVI

10.8.06

alheia

manter o movimento das coisas
nas coisas todas que tocaste
como se mexidas há pouco
no pouco tempo que ficaste.

e parece que ainda andas de vulto
inulto bulir das coisas com precisão
de ladrão: rouba-me, leva-me, lava-me,
sirva-te de mim, mas não deixa eu não.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, qujmta feira, dezº dia do octº mez d este anno de MMVI

alumia

[para arnaldo xavier]
alumia
incandesce o extremo norte
desse cachimbo boreal
e inala...
inala ao sul desce denso peyote
chicote açoita narinas & pulmões

alumia, alumia
bota voz & poder dentro nessa boca
abre braços & pernas prum leste-oeste qualquer
e constata...
está tudo tão cheio de deuses,
e deuses não arredam pé

alumia, alumia, alumia
explode veia temporal & fecha
o sabre-flecha d'cabeça escalpada
e arremata...
mata um pássaro hontem
com a pedra que atiraste oje.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, qujmta feira, dezº dia do octº mez d este anno de MMVI