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2.5.20

Quarentine - Eavan Boland

Eavan Boland, who redefined Irish poetry from a woman's point of ...
“A vida do poeta é sempre uma convocação para tentar estabelecer alguma verdade que era verdadeira antes, e que continuará sendo verdadeira. Nenhum poeta deveria ter que se preocupar com o respeito público, ou com a falta dele, na qual nossa arte é realizada.”
Eavan Boland (1944-2020).

Esse era um princípio pelo qual ela viveu e escreveu...

Quarantine
by Eavan Boland

In the worst hour of the worst season
of the worst year of a whole people
a man set out from the workhouse with his wife.
He was walking - they were both walking - north.

She was sick with famine fever and could not keep up.
He lifted her and put her on his back.
He walked like that west and west and north.
Until at nightfall under freezing stars they arrived.

In the morning they were both found dead.
Of cold. Of hunger. Of the toxins of a whole history.
But her feet were held against his breastbone.
The last heat of his flesh was his last gift to her.

Let no love poem ever come to this threshold.
There is no place here for the inexact
praise of the easy graces and sensuality of the body.
There is only time for this merciless inventory:

Their death together in the winter of 1847.
Also what they suffered. How they lived.
And what there is between a man and woman.
And in which darkness it can best be proved.

3.5.19

Âşık Veysel - uma jóia rara


Completamente por acaso me deparei com o poeta e músico turco Âşık Veysel (1894-1973), ouvindo ao fan-tás-ti-co “The Blue of the Night” com Bernard Clarke, na RTÉ Radio 1 FM. Imediatamente a voz de Âşık e o sentimento que suas músicas transmitem - ele foi um Ashik, um cantor que acompanha sua própria música com um instrumento, segundo a tradição turca - me tocaram, e passei a ouvi-lo quase que obcecadamente!

A boa notícia é que grande parte de sua música pode ser ouvida gratuitamente no Spotify ou no YouTube!

Inspirado no sentimento que sua música causa, traduzi - direto do turco, é claro - um poema de Âşık:

Caminho um caminho longo e estreito


Caminho um caminho longo e estreito
Dia e noite caminho este caminho
Não sei em que parte do caminho estou:
Dia e noite caminhando este caminho.

No momento que vim a este mudo,
Já comecei a andar, e logo entrei
Neste palácio de duas portas distintas:
Dia e noite caminhando este caminho.

Eu caminho mesmo dormindo
E mesmo de olhos bem fechados
Eu acabo vendo os que se foram:
Dia e noite caminhando este caminho.

Quarenta e nove anos nessa estrada
Entre desertos, montanhas e vales,
Por terras estranhas fiz meu caminho:
Dia e noite caminhando este caminho.

Profundamente penso neste caminho,
Cujo destino parece estar muito longe,
Embora a estrada pareça curta e ampla:
Dia e noite caminhando este caminho

A esta altura do caminho, Veysel se pergunta
Se deveria rir ou chorar... O que seria o certo?
Com um destino ainda por alcançar:
Dia e noite caminhando este caminho.


Uzun ince bir yoldayım


Uzun ince bir yoldayım,
Gidiyorum gündüz gece,
Bilmiyorum ne haldeyim,
Gidiyorum gündüz gece.

Dünyaya geldiğim anda,
Yürüdüm aynı zamanda,
İki kapılı bir handa
Gidiyorum gündüz gece.

Uykuda dahi yürüyom,
Kalmaya sebep arıyom,
Gidenleri hep görüyom,
Gidiyorum gündüz gece

Kırk dokuz yıl bu yollarda
Ovada dağda çöllerde,
Düşmüşüm gurbet ellerde
Gidiyorum gündüz gece.

Düşünülürse derince,
Uzak görünür görünce,
Yol bir dakka miktarınca
Gidiyorum gündüz gece.

Şaşar Veysel iş bu hale
Gah ağlaya gahi güle,
Yetişmek için menzile
Gidiyorum gündüz gece

8.5.18

'As You Like It', de Shakespeare (trecho)

O trecho aqui traduzido pertence à Cena Sete do Ato II. Para dar contexto, uma fala antes, outra personagem afirma:

"Vês que não somos infelizes sozinhos:
neste teatro amplo e universal
há desfiles mais lamentáveis do que
os que encenamos.”


E no monólogo que segue, a personagem 'Melancholy Jaques', uma das principais da peça, escancara seu desânimo...


"O mundo é um palco, e nós, meros atores
entrando e saindo de cena. E nestas cenas o homem pode
representar vários papéis, encenados em sete estágios:
Primeiro o bebê, regurgitando e chorando no colo da mãe;
depois o menino preguiçoso na escola, mochila em mãos,
ainda sonado, rastejando-se como uma lesma para a aula;
depois o amante, empenhado num vai-e-vem alucinante,
babando como um animal sobre o corpo da amante;
depois o soldado, cheio de juramentos duvidosos,
camuflando-se como um leopardo, zeloso de sua honra,
súbito e rápido em suas disputas, buscando reputação
rápida e qualquer, mesmo que na boca de um canhão;
e depois o Justo, de barriga redonda e virilmente castrado,
de olhos severos e barba aparada, de aforismos sábios
e argumentos modernos. E assim esse homem cumpriu seu papel,
o sexto estágio deixa-o de calças largas e desengonçadas,
de óculos no nariz e bolsa tiracolo, a virilidade aposentada,
pois o mundo agora mostra-se demasiado amplo para ela,
e aquele vozeirão másculo agora soa esgarniçado,
lembrando novamente os sopros e assobios da infância.
E a última cena do espetáculo começa, para finalizar
essa estranha história de inesperados acontecimentos,
também chamada Segunda Infância e o Mero Esquecimento:
sem dentes, sem visão, sem gosto... sem coisa alguma."


[“As You Like It”, Ato II, Cena VII, in “The Complete Works of William Shakespeare”, edited by W. J. Craig, M.A., Magpie Books, London, 1992, 1142 pp.]


All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. At first the infant,
Mewling and puking in the nurse's arms.
And then the whining school-boy, with his satchel
And shining morning face, creeping like snail
Unwillingly to school. And then the lover,
Sighing like furnace, with a woeful ballad
Made to his mistress' eyebrow. Then a soldier,
Full of strange oaths and bearded like the pard,
Jealous in honour, sudden and quick in quarrel,
Seeking the bubble reputation
Even in the cannon's mouth. And then the justice,
In fair round belly with good capon lined,
With eyes severe and beard of formal cut,
Full of wise saws and modern instances;
And so he plays his part. The sixth age shifts
Into the lean and slipper'd pantaloon,
With spectacles on nose and pouch on side,
His youthful hose, well saved, a world too wide
For his shrunk shank; and his big manly voice,
Turning again toward childish treble, pipes
And whistles in his sound. Last scene of all,
That ends this strange eventful history,
Is second childishness and mere oblivion,
Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.

3.5.18

20180516

The Lovers II, 1928 by Rene Magritte
+ www.artsy.net
algo além do universo...
deve haver algo além do universo
que justifique ou explique esse amor:

depois da luz, além do próximo
no único ponto do mundo
sem movimento -
          não no corpo -
tampouco fora do corpo
          não na mente -
tampouco fora da mente
: lá se encontra o amor incondicional.

não indo nem vindo: parado
       sem inércia -
tampouco movimento
: passado e futuro diluidos
em presente
     sem ascenção -
tampouco declínio
apenas o ponto
       o ponto
parado do mundo em movimento
onde não há dança -
    e só há dança
: lá se ama
      o amor dos iluminados...

e eu, à luz de velas,
me pergunto, retoricamente:
como amar incondicionalmente
se ainda não sei desprender-me
do amor que sinto por ela?

19.5.17

Wellfish

You know when you go from here to there, looking everywhere, and you can't find what you're looking for, and this just keep you looking more, and more, and more...
down in the streets, in the trash bins
among mongers and beggars
what dignity means?
it's all you care once you got there
you need more, and more, and more...
that's your wish, and you can't resist...

Wellfish!

Only a dream

You may wake one day
In the other side of the line
Then you might ask, is this day
The day when you have died?


Only a dream, a dream
would death be only a dream?

You didn't redeem your sins
Everything was so fast
What does it really mean?
You didn't care to ask


Only a dream, a dream
is death only a dream?

Now you stand before the light
So bright, you have never seen
Have you awaken from the night?
Is there a new cycle to begin?


Only a dream, a dream
life was just a dream.

8.5.16

The Legend of The Ancient Druid Cemetery

and its cursed bones


And there he goes, and there he goes,
No turn around there where he goes.
Tiptoeing slowly to make no sound,
Even tiptoeing he felt in the ground
He stepped into something hard and dull
A whitened bone head shaped, a skull.
There were human bones spread all around
Among half-dug holes and tombstones,
What he was looking for he has found:
The Ancient Druid Cemetery and its cursed bones!


Jumping the tombs he walks through the bones
Gently not to break any nor the dead to disturb,
He carries a bag, I might have forgotten to say
Which makes his hard task even harder,
A corpse of a beloved one who passed away
Whom he aims to bring back from outer border
The corpse he carries, Eleonor is her name
Engaged they were, and about to get married,
All that he feels is sadness and regret
Eleonor he wants returned from the death,
And for that to happen he needs to bury
To bury Eleonor under the grounds and stones
of The Ancient Druid Cemetery and its cursed bones!


The tragic event that came to happen that night
When Jack had been drinking just a bit off his mark
He got home but she couldn't shut up, the bride,
So Jack had to hit her, but maybe he did too hard,
So he hit her again, to make sure she got it right:
“I'm sorry babe, as you, I also feel the pain,
But who's the boss, to myself I have to prove”
And he hit her again, till she could not move.
Now that she's gone he wants her back and well,
And the only way to do it, is to follow an old spell
About an ancient Druid cemetery, which says if you bury
A deceased beloved on the grounds of this cemetery
On the third day of the passing, no matter how depth
The tomb, they would return back from the death
from The Ancient Druid Cemetery and its cursed bones!


And so Jack did, he dug and dug a tomb for his beloved
On the grounds of the cemetery, wasting no more time
He was so anxious to have his beloved to him returned
So anxious to finish it quickly and then cover his crime
So he dug, the deepest she's buried the better she comes
He dug and buried her amid many others, amid other bones
He returned home to wait three days and three nights of endless time
He patiently waited three days and nights, as the legend was known
The Ancient Druid Cemetery and its cursed bones!


Three days and nights have passed, he'll finally remeet Eleonor
It was late night, darkness hours, when someone knocked his door
“Must be Eleonor”, he demands, “Eleonor has returned from her death!”
He opens the door hoping to see Eleonor and revive the first day they've met
Eleonor was standing at his door: but she had no colour, no blood, no breath!
Shocked by the presence, he didn't notice when she got in on her zombie steps
And she seated in the only chair in the room, her dead eyes looking to nowhere
He said, “Eleonor, you're back! Breath, my love, you need some fresh air!”
But breathless Eleonor seated on the chair, staring who knows what, who'd dare.
Suddenly she broke the silence with a grotesque sound, not a voice, but a blare,
She said: “I'm waiting you to come”, then starring at him, “I'll wait for you in this chair”
And there she seats, day after day, night after night, waiting the day Jack would die,
So she will put his corpse in a bag and walk with it, singing a known wicked moan,
to The Ancient Druid Cemetery and its cursed bones!

25.4.15

10 anos

Swirling lovers 1 ~ ogle12
fisicamente longe dela
     - ela partiu de repente
abstinente de sí e de mim
num zepelim sem prumo
rumo àquele país estranho.

antanho foi a mesma sorte
parte ela antes da hora
embora amiúde nada mude.
alude-me em um email -
     galanteio eficiente -
e novamente me apaixono.

tento ligar, não consigo
exaurido caio na poltrona
dona insônia e sr. desconforto
me absorto meio desvalido
desiludido por entender tudo isso

eriço da ânsia de estar ao lado dela
que protela o tempo-pouco em tempo-muito
fortuito contratempo abismal

e nessa multidão sozinho
     resquardo-me em meu ninho
          disfarçado de normal
            .
          às vezes levanto a cabeça
     e antes que alguém apareça
respondo: tudo bom, nada vou mal.

Bodas de Estanho ou Zinco

Spectacles, Attributed to E. G. Washburne & Co.,
New York, New York, 1875-1900,
Painted white metal
(probably an alloy of zinc, lead, and tin)
Estanho.
metálico
branco-azulado & lustroso
em forma de cristais tetragonais,
        maleável
                dúctil
ou cubo acinzentado
        alotrópico
                pulverulento

Mas calmo mar, caudaloso sempre.

*

Zinco.
metálico
branco-azulado & cristalino
fraco & dútil quando puro
quebradiço quando ordinário
abunda em minerais
        zincita
                vilemita

Metabolizador de plantas & animais

*

Boda.
festa
para celebrar casamentos
se de brilhante
        se de coral
                se de cristal
também de diamante
        esmeralda
                estanho ou zinco.

estanho ou zinco
estanhou zinco
estanhuzinco
...
..
.

22.1.15

pedro, o ex-poeta

image by violscraper
desiste não pedro
essa luta é injusta
         (mas a poesia vale)
altos tombos, e sofridos
         (mas a poesia cura)
papel branco e cabeça vazia
         (mas a poesia volta)
o contador mostra nenhuma visita
         (mas a poesia é tua)

fosse eu, tiraria data e hora
arenques defumado a reiterar
a ilusão de que o tempo existe...
ora pois, já é hora de saberem: existe não!
nós, que acreditamos na força da palavra, sabemos
que o tempo é apenas um subterfúgio poético,
e que a distinção entre passado, presente e futuro
não passa de ilusão... embora teimosamente persistente.

12.11.14

Saudades de Nápoles ~ Bertha Worms
de olhos bem fechados
e mente enebriada
deixo-me entrar, por acaso
nessa melodia de transcedência

sinto-me criança ainda
acolhido pela mãe:
o lugar mais seguro do mundo
de todos os tempos
passados e futuros

só essa distância
dos que me são caros
mais esta imensidade que sinto -
maior que tudo
- não são o bastante
para conterem as lágrimas
no coração
apenas.

e essa vontade imensa
de estar lá...

8.5.14

a chama que vem de fora


        Qualé, qualé, qualé quelé
de quem é a vez, a vez de quem é
do velho da velha da moça do moço
carteira celu documento e trôco

        Qalou, qalou, qalhou de qalar
do que viu não gostou e não soube falar
qala discórdia da barulhenta horda
silêncio vazio arredio e qalhorda

        De porre, de porre, só mais um gole
esfolegue e esfole caramucho no bucho
desforre ocaso da morte e desporre
s'imole em flamejar de fogo estrebucho

assyno eduardo miranda,
d este temporário porto imsseguro da Terra Brazillis,
oje, qvª-fejra, oitº dia do qvjº mez d este anno de MMXIV

22.2.14

22022014


quatorze passou por mim assim
quattuordecim - ou seria catorze?
aljorze não vesti esse ano, tanto faz
costumaz uma ou duas garrafas... estás afim?

então vai, parte outra vez, na desvalia
de alegrias brancas em areias entufadas
jornada já conhecida d'outras euforias,
ironia cruel de sereias encalhadas.

(volta pra água! volta pra água!)

*

o que seria de mim sem mim?
dois mil anos e quattuordecim,
passaste sobre mim num zepelim
sem arranjos em coroas de alecrim
não se ouviu clarim, flautim, bandolim
tampouco tamboreaste teu tamborim.

quattuordecim, quattuordecim,
teria sido eu assim tão ruim?
foste tu um querubim, quattuordecim,
te chamarias serafim ou delfim?
certamente não te chamarias benjamim.

seria isso tudo só o começo serafim,
e cobrarás ainda tua féria de festim?
certamenrte delfim cobraria-me um rim,
passaria recibo em tinta carmesim
e o compartilharia com amigos de botequim.
benjamim seria diferente, já que arlequim
sairia saltitante de seu camarim,
cruzaria o salão real em seu escarpim,
de talim travessado, perfeito espadachim,
e buscando a paz no seu jeito chinfrim,
benjamim tenta alcançar no bolso seu morim,
mas precipita-se o guarda-real, ainda mirim,
e golpeia-lhe o peito com seu espadim
pensando benjamin fazer parte de um motim.

já que benjamim não mais tocaria seu trompetin,
sua majestade real mandou publicar no pasquim
com enormes letras em nanquim dizendo assim:
"venham todos, todos venham sim,
ver o fim que deu o malandrim,
de arlequim a espadachim, venham sim,
venham ver benjamim pintado em carmesim
esparamado no chão, sujando meu marfim!
p.s.: precisa-se de arlequim-espadachim
não paga-se bem, mas não precisa saber latim."

parabéns, benjamim...
parabéns para mim!
FIM.

assyno eduardo miranda,
d este porto seguro da jlha do Eire,
oje, sabbº, vjgesºsegº dia do segº mez d este anno de MMXIV

22.2.13

22022013

As time goes by, MK Photography

Edu, Edu... lá vem você, com esse brilho nos olhos, querer dizer
que o tempo passa, o tempo voa, mas que a vida continua num boa?
Bem podia ser, não fossem os planos daqueles do andar acima,
sempre por cima de tudo: da carne seca, se dinheiro e poder é a sorte,
do destino alheio, se trata-se de decidir sobre a vida e a morte - e aí...
aí meu camaradinha, é onde poucos podem entender as vontades Daquele,
que com D maiúsculo Determina Destinos, trazendo uns e levando outros.
Não fosse isso seria mais um, daqueles dias, denovo & again,
que ainda parece ser importante pra você & + meia-dúzia, nadalém,
e embora houvéssemos perdas, ainda estás aqui, cá estás de novo,
a mesma farinha do mesmo saco, a mesma gema do mesmo ovo!
a contar anos-círios, sem se dar conta da rima pobre,
muito menos dos anos-círios passados & apagados, e o que era nobre
agora não faz diferença, que desde nascença já é bastão passado,
- é tudo cabeça - costumavas dizer, diferente de tudo,
só mais uma vez, para sempre só mais uma vez,
solitário-nauta, arauto do que buscas, interminavelmente,
na mesma desafreada caçada aos futuros hontems & passados ojes
sem todos os apegos - saudadetoda, nenhumamágoa, nada-apaga, toda-via,
- a mesma saudade que nos mata dia após dia -
se as mais altas colunas da ordem e da desordem conspiram contra o tempo,
e sabes que ainda terás que barganhar outras barganhas de vida e morte,
e nessa hora, nem os aléms dos tudos que te possam oferecer serão suficiente...

e se permitido fosse auto-plágio, diria que e quando tua hora chegar
que estejas rodeado... rodeado de ti, aquele tú-mesmo e mais todos os outros tús
que te incorporam de vez em vez, e assim amalgamar-te onipresentemente,
no sentido etéreo-futurista de uma fuga de Bach... se possível fosse sobreviver-te!

parabéns pra você.

assyno eduardo miranda,
d este porto seguro da jlha do Eire,
oje, sexª-fejra, vjgesºsegº dia do segº mez d este anno de MMXIII

2.11.12

senão de perda, de ...


É de perda, esse Natal
e igual já vi, em dezembro de 88
afoito, em minha juventude
amiúde ocupado com coisas menores
dores só de amores, embora perdas fossem,
nem de perto como as perdas
da vida inteira - dormia minha avó,
agora para sempre, enquanto minha mãe
se despencava por dentro e por fora...

agora entendo a perda da vida inteira.

29.5.12

Ciao Souza

Da direita, Souza, Roni e eu.
12 de Agosto de 1954 - 28 de Maio de 2012
Falei da passagem lá em TUDA. Aliás foi em TUDA que publiquei muita coisa inédita de Souzalopes. Creio que as últimas coisas, antes de seu afastamento (?) dos (alguns) amigos. Motivos deve ter tido... sabeselá!

Meu caro Souza, que a terra lhe seja leve, companheiro!


Soulopiana

pessonha boa pessonha
pessonha do peito pessonha
eu não falo do verbo peçonha
peçonha que falo pessonha
é peçoa pessonha que peçonha
peçonha do peito peçonha
peçonha boa peçonha
pessonha que bem peçonha
peçonha pessoña e pessonha
mais que qualquer peçoa
como já dizia o poeta
sepolazuos in letras invertidas:
peçonha carcome pessoa

2.5.12

Coming Back Home

... cheguei sim, sem mesmo saber ao certo
de onde, nem mesmo pra onde havia ido -
ido ou partido? pois partido já ando, há muito,
em migalhas, pequenos pedaços de vidas -
não lheias, alheias - que não escolhi, herdei
só herdei. e como todo homem que herda,
quando herda, herda com a honra dos homens
mesmo sabendo do risco de se perder no caminho...

Como já dizia José Américo de Almeida:
"Rejubila-me a alma repatriada. A memória pode falhar, mas no coração não há nada esquecido. Volto. Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde na volta".

9.3.12

Breves São os Anos

-


No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterônimo de Fernando Pessoa

22.2.12

22022012


pois é, edu, chegou aquele dia again,
importante pra você & outra meia-dúzia-e-meia, mais quem?
nadalém dum ou outro, farinhas do mesmo saco, gemas do mesmo ovo,
mas o importante mesmo é que estás aqui, cá estás de novo!
a contar anos-círios, que se iluminadaos ou não nem importa tanto,
tanto que já perdeste a conta, e assim nem te dás conta
da rima pobre que acabaste de cometer - que fazer?
babalorixá agora de bastão passado - embora assumido, não herdado,
finalmente nasceste noutrem de nome joão... ah joão,
mais vivo que tú, mais nobre que um cão, tua chance de continuação
tampouco mais ou menos torto, não faz diferença...
desde nascença já te pertence, no balanço correto, quem dera,
sem eira nem beira, até parar a contagem - é tudo cabeça -
diferente de tú, esmo esborro, fidalgo incrédulo,
valgo dalgo danado de errado ou de bom, que não aprenderá jamais,
& entorta & sufoca & inibe & abafa todo discurso tosco,
só mais uma vez, para sempre só mais uma vez...
aí vais de novo & novamente, solitário-nauta,
na mesma busca desafreada, por entre os futuros hontems e os passados ojes
em todos os lugarem que possam existir, mesmo nas imundas fossas,
mesmo em todos os apegos, todas (de)formações: todamágoa, todorancor, todaraiva,
- aquela mesma que nos mata em cada dia dos nossos dias -
também lá não estão: a paz & a harmonia que procuras são únicas
e não vais achá-la assim tão fácil não, ah não vais não...
nem nas mais altas colunas da ordem e da desordem,
nem nas melhores barganhas entre a vida e a morte,
muito menos nos mais altos aléms dos tudos que te possam oferecer.

parabéns pra você.

assyno eduardo miranda,
d este porto seguro da jlha do Eire,
oje, qvartªfeira, vjgesºsegº dia do segº mez d este anno de MMXII

23.12.11

Tá chegando...


Nem tão cedo nem tão tarde
Nunca fui de muito alarde
E todas essas luzes piscantes
Com seus glamores ofuscantes
No fundo, no fundo, me fazem mal...
Seria isso, enfim, o que chamam Natal?
Aperto de mão e tapinha nas costas?
E tudo na mesma merda, na mesma bosta?
Fazer o bem por dever não por querer?
Não fazer o mal por religião e não por convicção?
Pois doa a quem doer, e dói em mim também,
Morra quem morrer, que seja aqui ou no além.
Dinheiro não compra felicidade, nem sua nem alheia
É uma pena o espírito natalino não durar a vida inteira!
...
Nem tão tarde nem tão cedo, é sempre o mesmo enredo
Tenha um Natal mais consciencioso e menos consumista
Fora isso, muita, mas muita saúde, que o resto se conquista...

* * *

Veja também o espírito dos natais passados aqui.