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17.6.15

A Gostosa do Jaleco


Todo dia, 12:15, como um relógio. Ela saia para o almoço junto com outras colegas de trabalho - todas de jaleco. Desfilava confiante, exuberante, decidida, exibida, certa de sua gostosura, que o jaleco disfarçava levemente, ora cobrindo, ora mostrando. Um golpe de vento aqui e o jaleco dá uma subidinha; outro golpe de vento ali e o jaleco se amontoa para o lado. Cada movimento parece revelar uma curva diferente do seu corpo. Eu me espremo naquele boteco nojento onde ela come o PF do dia - não deve ser médica pra comer estas porcarias! - e faço hora com um café melado e requentado, às vezes dois, até três, se ela se perde nas conversas, sempre desinteressantes, sobre sangue, urina, secreções e excrementos.



Ouvi no rádio que os médicos, enfermeiros e profissionais de saúde estão proibidos de usar jaleco fora do ambiente de trabalho, e que quem desrespeitasse estaria sujeito à multa, que dobraria em caso de reincidência... Disseram que o objetivo era impedir que os jalecos servissem de fonte e veículo de transmissão de micro-organismos. Um blá, blá, blá que para mim não importava nem um pouco... Mas o que seria da gostosa do jaleco?

Nunca mais fui ao boteco.

12.5.14

Foi esse o sonho...

Ishtar, with her cult-animal the lion, and a worshipper
Modern impression from a cylinder seal, c. 2300 BC
In the Oriental Institute, University of Chicago
Uma mulher me falava que meu pai e minha mãe tinham sofrido um acidente. Era em Dublin, tenho quase certeza. Eu a interrogava “Onde eles estão?” e ela dispersava, “Ah, estão ali...” “Onde?”, gritava desesperado, “Ali...” e apontava displicentemente para um beco escuro, e alertava: “Mas se eu fosse você eu não iria lá...”.

Claro que eu fui.

Entro no beco e encontro minha mãe caída, desacordada, e meu pai cambaleante, tentando levantá-la. Num instante - num daqueles instantes de sonho que transgridem todas as leis da física - estávamos todos no saguão de um hospital: lembro-me bem de pai, Alê e Teresa. Tem mais gente mas não me lembro quem são, ou não vejo seus rostos. Todos estavam bem calmos, esperando não sei o quê. Eu só queria chegar ao quarto de minha mãe.

Peço informação. Era o quarto número 9, mas disseram que eu não saberia chegar lá... Mostraram-me o mapa do hospital, que parecia o James Connolly, lá de Blanchardstown, em Dublin, mas as imediações tinha a representação urbana de Barcelona, na Espanha.

Chamei Teresa para dar uma olhada no mapa, na esperança de que ela conhecesse o caminho, mas ela estava distraída... Peguei o mapa e disse “Deixa que eu me viro.” Chamei Alê para ir comigo. Ele veio, mas no caminho nos perdemos um do outro. Pedi informação para um enfermeiro-estudante - era um hospital universitário. Ele pegou o mapa, olhou, coçou a cabeça, chamou outro colega, “Não é aquele lugar onde não se pode dormir à noite?”, “Sim, lá não se dorme...”. “Tudo bem”, disse, "eu só quero chegar lá!".

O enfermeiro-estudante me conduziu, correndo um pequeno trote, entre portas e corredores. Um verdadeiro labirinto, e conforme nos emaranhávamos hospital adentro, suas alas ganhavam um aspecto de abandono, de desolamento.

Chegamos ao lugar. O enfermeiro sumiu - mais uma daquelas distorções das leis da física. A porta do quarto número 9 ficava numa parede, e parecia uma gaveta. Confuso, abro a tal porta e vejo o corpo de minha mãe. Embora ela estivesse bonita, não aguento a imagem e despenco em prantos. Retoricamente me pergunto "Por que não me avisaram antes?", já que eu tinha a impressão de que todos sabiam, menos eu.

Acordo... e me concentro em entender o sonho. O número 9.

Para quem acredita em numerologia, o 9 encerra um ciclo natural, a morte de um ciclo e as portas para o início de outro. Pode ser interpretado como o fim das ilusões ou como um recomeço.

Eu, que sou e sempre fui cético para estas coisas, acabo dando ouvido mais pela mitologia, como fenômeno popular de transformação e sua capacidade de conectar diferentes culturas através de histórias, geralmente baseadas em tradições e lendas feitas para explicar os fenômenos naturais, a criação do mundo, o universo ou qualquer outra coisa além da simples compreensão.

Nessa linha, tem um mito bem descritivo da essência do número 9: o Mito da Descida de Ishtar ao submundo. Ishtar, deusa suméria da fertilidade, do amor, da guerra e do sexo, desce ao submundo através de uma imensa caverna vertical e conforme avança os portões do inferno, um guardião retira uma peça de seu vestuário real. Quando chega ao fundo do poço, Ishtar está totalmente nua, despojada de suas armas e atributos reais, de seus símbolos de status e de realeza. Voltou ao seu estado original. Quando consegue voltar, ela está modificada - pode-se dizer que morreu e renasceu.

Está aí uma boa explicação para o meu número 9...

27.12.11

Jeremia não escrevia


Jeremia não escrevia

Jeremia não escrevia. Jeremia pouco lia e nada escrevia. Isso durante onze meses e 3 semanas do ano. Sabe-se lá o que acontecia com Jeremia que em épocas natalinas, mais precisamente na semana que antecedia o natal, se dava a escrever, compulsivamente! Embora possa parecer bom, para Jeremia era um tormento! Jeremia escrevia para por para fora... por para fora todo aquele sentimento que, de repente, brotava em seu peito, e que ele chamava de sentimento anti-natalino, que era o oposto do espírito de natal.

Quando criança, Jeremia perguntara ao pai porque não se chamava Jeremias, e o pai respondeu “Pruque tu é um só”.

Assim era o natal de Jeremia: onde as pessoas sentiam amor, Jeremia sentia ódio, onde as pessoas sentiam compaixão, Jeremia sentia desdém, onde as pessoas sentiam solidariedade, Jeremia sentia indiferença. Mas quem conhecia Jeremia sabia que ele era uma pessoa boa. Por onze mêses e três semanas do ano, Jeremia era um exemplo de amigo, colega, vizinho. Mas quando chegava aquela semana, Jeremia se transformava... ficava desesperançado, amargo, frio, indiferente, e enquanto as pessoas se confraternizavam, Jeremia se isolava. Se isolava e escrevia Jeremia. Compulsivamente.

De pequeno Jeremia não entendia muito das coisas. Um dia perguntou para mãe se o seu Manuel da padaria havia lhe batido. A mãe estranhou e disse que não, por quê? Jeremia disse que depois que seu Manuel chegou e entrou no quarto com mãe, mãe não parou de gritar. Naquele dia Jeremia aprendeu que voltar da escola mais cedo com dor de barriga significava uma surra.

Escrevia Jeremia, Jeremia escrevia. Toda aquela amargura, tristeza, desesperança... tudo ia na escrita de Jeremia, que não via a hora disso tudo acabar. Jeremia escrevia sobre a ganância das pessoas e sua conduta moral, sobre seu caráter, sua falsidade...
(...)
Mas se são de solidariedade os tempos, de compaixão e amor ao próximo, por que não realmente pregamos esses sentimentos? Por que ainda viramos as costas para um pedinte, para depois sentirmos pena? Se não adianta dar esmolas, esmolar também não vai fazê-lo nem mais nem menos miserável, ele provavelmente sabe disso, na própria pele! Mas aquele trocado pode salvar-lhe o dia – seja para um prato de comida, seja para um trago de pinga. Quem aí vai julgar?!? O que incomoda mesmo é a presença... ah, se pudéssemos simplesmente eliminá-los! Sim, a eliminação é possível, mas não como faz a polícia de certos Estados, e sim de maneira humana! E sua arma, camarada, é a consciência – igualmente toda a força e toda a fraqueza do homem. Por isso, enquanto estiver se empaturrando de perú e cerveja, não precisa pensar que tem gente remexendo o lixo e morrendo de fome, não... seria muita hipocrisia, e de hipocrisia a humanidade já está cheia. Quando estiver enchendo o rabo de perú, desejando saúde, paz, prosperidade e harmonia para os seus amados amigos e familiares, não precisa nem se esforçar muito... apenas sinta, de verdade, e carregue esses sentimentos ano afora – eu sei, é difícil, mas garanto que vai lhe doer menos...
Nos textos, Jeremia, que nunca escrevia, punha para fora essas coisas, coisas de pai, mãe e família, que não lembrava direito, pois depois que o pai havia se matado, Jeremia muito jovem, passara o resto da infância e adolescência de orfanato em orfanato... vários. Dos irmãos Jeremia não sabia – só sabia que cada um teve um destino diferente.

Geralmente Jeremia queria ver o natal passar rápido, rasteiro, mas ultimamente a coisa vinha mudando, ano após ano! Jeremia percebia que quando escrevia, punha para fora sentimentos alheios aos outros, mas também percebia que, fora da época natalina, quando não escrevia, sentia sentimentos igualmente não compartilhados... E quando concientizou-se de que isso era mais penoso do que escrever, Jeremia deixou de querer que o natal não chegasse, para desejar que o natal não acabasse. Se ele pudesse, escreveria sem parar, numa espécie de manifesto sobre essa hipocrisia toda que alimenta as pessoas, e o próprio ciclo da vida.

Estranha figura era Jonatã, o pai de Jeremia. Não chorava, não sorria. De nada reclamava, e por ninguém sentia. Diziam que ficara assim por causa de Eleonora, mulher infiel. Não teve coragem de largá-la por causa dos filhos Jacira, Jeremia, Jildete, Joel, Juvenal e Agripina. Talvez não tanto por causa de Agripina, filha bastarda, que mais bastarda ficou quando a mãe morreu dando a luz a ela. Culpa Agripina não tinha, mas na cabeça de Jonatã, a filha bastarda era sua única desculpa.

Embora Jeremia não tenha conseguido conspirar com o universo e fazer com que o natal não acabasse, conseguiu um trato melhor: manter aquela amargura, aquele desprezo, aquele ceticismo, pelo resto do ano dentro dele, e agora só escrevia Jeremia... enlouquecido, Jeremia não comia, não bebia, não falava, não dormia... Ficou conhecido como o louco que escrevia.

Quisera Jeremia que o que escrevia mudasse o que toda gente sentia, mas Jeremia sabia que não passava de utopia, e assim escrevia Jeremia, escrevia, e apenas escrevia...

16.10.11

A Adega de Edgar



Já era tarde, mas mesmo assim Edgar resolveu abrir outra garrafa de vinho. Costumava dizer que o vinho vinha na dose certa para a pessoa, em garrafas de 750 mililitros. Dizia isso para justificar o fato de que, ao abrir uma garrafa, Edgar a terminava, sem problema algum. E ainda ficava bem... seus amigos é que ficavam impressionados e sempre comentavam, "Nossa Edgar, você tomou a garrafa todinha!" "Claro, ela vem na dose certa...", respondia. Já houvera ocasiões em que sozinho entornara 2 garrafas... em outras ocasiões - mais raras, é verdade - Edgar entornara três! Um recorde, se é que podemos chamar de recorde, já que Edgar particularmente não se interessava por isso.

Levantou-se com dificuldade do sofá, derrubando o controle remoto do DVD, que ao cair no chão, acabou por pausar o filme que Edgar assistia, "Encruzilhada de Bestas Humanas", de Rainer Werner Fassbinder. Edgar comprara este filme por recomendação de um falecido amigo escritor, Dario... Dario cometeu sucídio dias após ter assistido ao filme. Antes, porém comentara sobre uma lenda urbana sobre um casal cuja garota havia matado o namorado, fanático por Fassbinder, após uma sessão desse filme... segundo Dario, saira na imprensa na época, Laura e Gabriel, mas Edgar não se lembrava. Na verdade Edgar não se interessava muito por cinema, mas depois do suicídio do amigo desenvolveu uma fixação por suicídios e suas causas, tentando entender o que passa na cabeça de um suicida. Por isso comprara o Encruzilhada...

Sacou do saca-rolhas, daqueles antigos que só garçons em bodegas de vinho usam. Detestava os saca-rolhas encrementados, que você apoia a garrafa sob eles e só abaixa o sacador... pronto, a rolha é mecanicamente arrancada numa precisão indiferente. Não Edgar, um verdadeiro apreciador de vinhos! Essas coisas não passam de bugigangas para novatos, coisa da moda, dizia. Como tudo no mundo, consumir vinho também acabou por virar moda entre a classe média em ascenção, e cada um precisava, desesperadamente, apreciar mais do que o outro, e para isso gastavam seu dinheiro sem valor em saca-rolhas maiores e mais sofisticados, em vistosos coolers, no maiores e mais sofisticados gabinetes de armazenamento... é a era do amadorismo, dizia Edgar! Hoje em dia, todo mundo pode comprar uma máquina fotográfica e brincar de fotógrafo artístico! Ou gravar um CD, fazer um filme... Youtube, MySpace, Facebok, essa merda toda! Mas não Edgar. Edgar não era destes, e preferia investir seu valioso dinheiro em vinhos de qualidade, baseado em suas incansáveis pesquisas e leituras - o verdadeiro caminho para o conhecimento. Edgar acompanhava anualmente o desenvolver das safras francesas, nas regiões e terroirs de sua preferência. Para cada região tinha seus preferidos, em Côtes du Rhône, por exemplo, Edgar gostava do norte do Rhône, Côte-Rôtie e Hermitage; em Beaujolais, gostava de Fleurie; em Bordeaux, preferia os vinhedos situados ao lado esquerdo do Rio Gironda, rodeado por largas faixas de terra e florestas coníferas, que dão um efeito moderado ao clima marítimo da área; em Burgundy, sem dúvida era Chablis para os brancos, e Côte de Nuits, com seus pinot noirs fabulosos! Edgar também apreciava os vinhos italianos, principalmente os Amarones della Valpolicella, Barolos, Brunellos super toscanos, sem deixar de lado os espanhóis de Priorat, Navarra, Rioja e Ribera del Duero, e também os portugueses do Douro e Alentejo.

Baseados nestas informações todas, poderíamos dizer que Edgar era um apreciador de vinhos do velho mundo, e estaríamos corretos, mas o que não poderíamos dizer é que Edgar nunca se interessara pelo novo mundo. Edgar já esteve em feiras vinículas e gastronômicas na Argentina, no Chile, nos EUA, na África do Sul, na Austrália e na Nova Zelândia. Há coisas de qualidade, reconhecia, mas faltava algo... tempo, talvez.

Convêm dizer que, depois da primeira garrafa, o controle de qualidade de Edgar ficava prejudicado. Não só para o vinho, mas para tudo. Experiente bebedor que era, Edgar sabia que depois da primeira garrafa - geralmente um belo vinho - a seguinte deveria ser de qualidade inferior. Neste caso, as seguintes... O que Edgar buscava na quarta garrafa já não encontrara na terceira e tampouco na segunda! Não tinha mais nada a ver com apreciação de vinhos - era pura bebedeira!

Edgar se levantara para pegar o saca-rolhas antes memso de selecionar o vinho. Munido do saca-rolhas percebeu que lhe faltava a garrafa. Sentiu-se tolo, sorriu para si mesmo e caminhou em direção ao seu gabinete que comportava a consideráveis 120 garrafas de vinho. Por vezes Edgar se questionava se não era pequeno demais o gabinete. Pegou-se pesquisando gabinetes de 300, 500 garrafas, mas logo desistiu... algo dentro dele dizia para não comprar.

Cambaleante, Edgar abriu a porta do gabinete para horrorizado constatar que só lhe restava uma garrafa de vinho! Espantado e incrédulo - jurava que o gabinete estava com mais da metade, apenas uma garrafa atrás - e sem saber descrever exatamente o que sentia, Edgar pega a garrafa e tenta ler o rótulo, mas não acredita no que vê... ou pensa que vê: o lendário Château d'Yquem 1811, a chamada Safra do Cometa! Uma raridade para colecionadores!

Ranzinza que era quando ficava um pouco alcoolizado, Edgar pragueja, "Mas que merda... vinho branco de sobremesa?!?". Além de não ser muito inteligente abrir um vinho bom depois da segunda garrafa, muito menos inteligente seria abrir um vinho cotado a 75.000 libras esterlinas - considerado o vinho mais caro do mundo! Edgar sabia não ter esse vinho em sua adega, mas atônito que estava, isso era apenas um detalhe.

Decidido a abrir a quarta garrafa de vinho, Edgar vai até o mercado da esquina e constata que a sessão de bebidas estava fechada - uma das muitas hipocrisias nos mecados locais, fechar a sessão de bebidas após as 22:30.

Volta pra casa sem opção a não ser abrir o Château d'Yquem, que conscientemente sabe não possuir! Na primeira tentativa de sacar a rolha, ela praticamente se desfaz! Edgar acaba de empurrá-la garrafa adentro, e munido de um coador entorna uma taça generosa do vinho, para constatar que o mesmo estava estragado!

Alucinado, e agora com uma necessidade alcoólica que já se tornou molecular, Edgar começa a revirar todas prateleiras em busca de algo alcoólico - qualquer coisa - mas nada! Nada restara, a não ser... Edgar corre para a área de serviço do apartamento e revira desesperadamente a dispensa que fica debaixo do tanque. "Onde... onde estará aquele litro de Zulu..."

Com o litro de álcool nas mãos, Edgar olha para os lados, sem jeito, como se quisesse se desculpar pelo seu ato... mas Edgar morava só, e aquela era só mais uma daquelas noites intermináveis das suas semanas, em que costumava alcoolizar-se na tentativa de acelerar os tiques e os taques do maldito relógio... sempre em vão!

Edgar corre para a cozinha aos cambaleios, protegendo o litro de Zulu como se sua vida dependesse dele. Pega um copo, dispensa água e gelo, despeja uma boa dose do álcool e o entorna! Faz uma careta de quem não gostou mas repete a dose uma, duas, três vezes!

* * *

Dona Marluce, a vizinha do 203, acorda de repente com um grito horrível vindo do apartamento ao lado - "É do apartamento do seu Edgar!" Veste sua camisola e quando abre a porta do corredor vê Juvenilda, a empregada de Edgar, passar correndo, ainda aos gritos!

Dona Marluce entra no apartamento de Edgar e depara com a cena: Edgar caído no chão da sala, a boca espumada, e uma garrafa de veneno de rato nas mãos. A porta da adega estava escancarada, e 83 garrafas de vinho estavam espalhadas pelo chão da sala. Ao lado de Edgar, 6 garrafas de vinho, 5 vazias e uma aberta, faltando apenas uma taça.

Dona Marluce pacientemente transfere as 83 garrafas para o seu apartamento. Antes de se retirar, senta-se no sofa, pega a taça abandonada praticamente cheia, olha contra a luz através do vinho branco e licoroso... pega a garrafa quase cheia e lê em voz alta, "Château d'Yquem, Lur-Saluces, 1811". Pensativa, dona Marluce matuta com seus botões, Chatô di quem? Saluce? Uai, será qui é daquela minha colega lá di Minas?" Dona Marluce dá um longo gole no vinho com o qual acredita ter algum tipo de ligação, e comenta, "Ô trem bão... docin, docin, esse vinzin!" Mete-o debaixo do braço e deixa a cena.