25.12.08

nicolaus

"Tenho penado bastante
tenho sofrido pra cachorro
o ano passado eu morri
mas este ano eu não morro"
[Zé Limeira, o poeta do absurdo]


deesta terra desólada
éra só iço meesmo qe restaara :
ë alghuü lugar d’ mumdo
é oora d ijrse
ë alghuü lugar d’ mumdo
é oora d seerse
– signaes deesta y d’outras modernaijdades :
nhuü mumdo redomdo
d’ooras redomdas ,
falhame señr que valhote amen
– agora y na ora d’ noosa bem tardia ora ...

y neeste novvu anno
qe sy approçima y açerca ,
aqui o alli , ao norte o sul ,
ao eeste o oeste ,
qe os Noéis nos sejamm gentijs ,
poijs huü homeë se vae
)in memoria(

emcuamto ooutro homeë se fijca
qe é como averija de seer :
y asy só , todo o mauu casy nõ se apercebe ,
neë tampoco se pod' ijmpedjr .

o<[¦¬]==
oh, oh, oh
& felizannonovodenovo &
> 2oo8 - 2oo9 <
açyno eduardo miranda
deeste porto seguro d' Ijlha d' Eire,
oje, qvartª fejira, vijgesº qvartº dija do dezº-segº mez deeste Anno-Domijnij d MMVIII.

16.10.08

Nós não nos fizemos



Nós não nos fizemos,
por um segundo pensamos nisso.

Meu corpo rompe fronteiras
meu cérebro é aberto ao novo mundo
fora dos limites de Fallopius
definitivamente não me fiz
mas posso contribuir com o acabamento.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, qujmtª, dezº-sestº dia do dezº mez d este anno de MMVIII

12.10.08

Fora da Ordem - Uma homenagem ao momento...


Vapor Barato, um mero serviçal do narcotráfico,
Foi encontrado na ruína de uma escola em construção
Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína
Tudo é menino e menina no olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua
Nada continua
E o cano da pistola que as crianças mordem
Reflete todas as cores da paisagem da cidade que é muito
mais bonita e
muito mais intensa do que um cartão postal
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Escuras coxas duras tuas duas de acrobata mulata,
Tua batata da perna moderna, a trupe intrépida em que fluis
Te encontro em Sampa de onde mal se vê quem sobe
ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova, parece fogo, parece, parece paz
Parece paz
Pletora de alegria, um show de Jorge Benjor dentro de nós
É muito, é grande, é total
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Meu canto esconde-se como um bando de ianomânis
na floresta
Na minha testa caem, vêm colar-se plumas de um velho cocar
Estou de pé em cima do monte de imundo lixo baiano
Cuspo chicletes do ódio no esgoto exposto do Leblon
Mas retribuo a piscadela do garoto de frete do Trianon
Eu sei o que é bom
Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem
Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial

15.9.08

The Great Gig In The Sky

Richard Wright

and I am not frightened of dying, any time will do, i
Dont mind. why should I be frightened of dying?
Theres no reason for it, youve gotta go sometime.
i never said I was frightened of dying.
Richard Wright is definitively playing that great gig in the sky...
Rest in Peace...

9.9.08

- sem título -



Todo morto traz na cara
a marca do que viveu
cujo cunho pode estar no peito
feito o cunho que está no meu

todo morto tem uma vida
dia ou outro rogada a deus
heréu cabresto da própria sina
enzima azêda que acometeu

todo morto bem morrido
é jazido na jazida que escolheu
aquilo que te mata, meu amigo
te digo que também mata eu.

assyno eduardo miranda
deeste porto seguro d' Ijlha d' Eire,
oje, terçª feijra, nonº dija do nonº mez deeste Anno-Domijnij d MMVIII.

12.7.08

- sem título -


uma tristeza imensa,
e um cansaço de tudo
que poderia deitar-me
sobre todas as coisas e esquecê-las
- desamores, injustiças, desrespeitos.

fechar os olhos e entregar-me, suavemente,
a uma inerte e sonolenta solidariedade...


asyno eduardo miranda
deste porto seguro d'jlha d'Eire,
oje, sabbato, dezº segº dia do septº mez d este anno Dommini de MMVIII

11.7.08

Let's Get Lost - Lyrics

Let’s get lost, lost in each other’s arms
Let’s get lost, let them send out alarms
And though they’ll think us rather rude
Let’s tell the world we’re in that crazy mood.
Let’s defrost in a romantic mist
Let’s get crossed off everybody’s list
To celebrate this night we found each other, mmm, let’s get lost

[horn solo] [piano solo]

Let’s defrost in a romantic mist
Let’s get crossed off everybody’s list
To celebrate this night we found each other, mm, let’s get lost
oh oh, let’s get lost

26.6.08

how can you mend a broken heart

Bee Gees


I can think of younger days when living for my life
Was everything a man could want to do.
I could never see tomorrow, but I was never told about the sorrow.

And how can you mend a broken heart?
How can you stop the rain from falling down?
How can you stop the sun from shining?
What makes the world go round?
How can you mend a this broken man?
How can a loser ever win?
Please help me mend my broken heart and let me live again.

I can still feel the breeze that rustles through the trees
And misty memories of days gone by
We could never see tomorrow, noone said a word about the sorrow.

And how can you mend a broken heart?
How can you stop the rain from falling down?
How can you stop the sun from shining?
What makes the world go round?
How can you mend this broken man?
How can a loser ever win?
Please help me mend my broken heart and let me live again.

19.5.08

comida - titãs


Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...

22.2.08

22022008


ao norte do núcleo oco do mundo
eu-mudo-contínuo grito solidão.

do sulco púrpuro não-raso não-fundo
não-puro não-imundo corto coração.

mas não há de ser nada não, afinal,
cada qual com a sua própria mesura.
pior que sangrar é sangrar em vão,
já que na sangria ganha-se a cura.

(pura retórica - não passa de palavras,
embora educadas pela pedra, lavra-lavra
pois chamie-me do que bem deixa-vier...
meus campos pignatários hão de florescer)

amanhece diferente este dia, como sempre
eventualmente o primeiro dia do meu ano.
no fundo eu só queria um sonho não-americano
que me desse um sabor de vida & arte...

mas o porta-estandarte do meu próximo amanhã -
o tempo - se achega me trazendo um ramalhete.
no cartão, apenas os dizeres "parabéns para mim"

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, sestª-feira, vjgesº segº dia do segº mez d este anno Dommini de MMVIII

18.2.08

Canto para Minha Morte


Composição de Raul Seixas e Paulo Coelho, quando ele ainda não era bestiséler

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

14.2.08

Directly From My Heart To You

Lyrics by Frank Zappa

(R. W. Penniman)

Direct
Directly from my heart to you
Direct
Directly from my heart to you
Oh, you know that I love you
That's why I feel so blue

Oh, I pray
Our love would last away
I pray
That our love would last away
Yeah, we'd be so happy together
But you're so far away

Well, I need
(Oh, baby, need you baby)
I need you by my side
Well, I need
Yes, I need you by my side
Oh, I'd loved you little darlin'
Your love I could never hide

My Funny Valentine

Música: Richard Rodgers.
Letra: Lorenz Hart.


My funny Valentine
Sweet comic Valentine
You make me smile with my heart
Your looks are laughable
Unphotographable
Yet you're my favourite work of art

Is your figure less than Greek
Is your mouth a little weak
When you open it to speak
Are you smart?

But don't change a hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine stay
Each day is Valentine's day

Is your figure less than Greek
Is your mouth a little weak
When you open it to speak
Are you smart?

But don't you change one hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine stay

7.2.08

velho, mas atualíssimo...

que minha mão não trema
perante os traidores que me deram o veneno
que sai pela boca feito pecado
que vai pela boca mesmo não querendo

snifarei a louca,
bêbado de orgulho, irado de fraqueza
querendo parar a vida num momento,
geometrizando belezas.

tudo me enoja!
não preciso de estantes vazias
preciso sim, cabeça fria
pés firmes,
mãos livres,
olhos abertos...

Permanecer vivo, até o fim,
intocável, incomunicável,
irrespirável, indecifrável,
embalos ateus, adeus:

deus agora e sem, ilumina.


asynado eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
n algum dia, d algum mez, d aquelle anno de MXMLXXXVIII

9.1.08

cão & bode


Tú, cão & tú.
cão negro não preto
guia da noite da morte
companheiro do dia da vida - desmedida!
desmesura-te e arrasta-te
manda pra berlinda a vida
deste homem-de-bem - e olhai
atentamente as almas que te rodeiam
pois saibas que sofrerás a fome,
que enquanto és vivo, celebras tú
e quando morreres celebrará tua alma.

Tú, bode & tú.
bode branco não branco
um para o dia da vida
outro para a noite da morte - consorte!
anorteia-te e afasta-te
arrasta pro nunca a vice-morte
deste homem-de-mal - diácono nefasto
afasta-o pra onde a palavra não fecunda -
imunda alma carregada com o pecado do teu povo,
bodoso banido do céu divino a errar pelas bouças:
pouca morte terás para a tua eterna ode.

bode-expiatório não dorme de touca.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro d' jlha d' Eire,
oje, qvartª feira, nonº dija d prijmº mez deeste Anno-Domijnij d MMVIII .

1.1.08

four translations

Trabalho preparado para uma revista literária de Dublin, onde traduzi 4 poemas do português para o inglês".


FERNANDO PESSOA – AUTOPSYCHOGRAPHY
This Pessoa’s poem is marked by the forgery of the feelings – the art of misrepresentation. Autopsychography derives from Portuguese word “Psicografia” (Psychography), which derives from the Greek, meaning ‘writing from the mind or soul of a medium, words suggested by a spirit or entity’.

Autopsychography

The poet is a mere dissimulator
His dissimulation seems so real
That he dissimulates to be dolor
The dolor which he can really feel.

And those who read his writes,
In the pain chore feels well,
Not both the pains he delights,
But the one which no one tells.

Thus in the gutters of the funny wheel,
Spin, spin, to put my mind apart
This convoy of hope made of steel
This convoy of rope called heart.

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.



MÁRIO QUINTANA – THE CONTRA’S LITTLE POEM
In this poem, Quintana uses a homograph – “passarão” – the future sentence of the verb “to pass”, which can be interpreted as “death”, but also means “big bird”, although this meaning is out-of-context till the next verse, where Quintana uses the word “passarinho” – meaning “little bird” – which echoes with “passarão”, bringing up its second meaning.

The Contra’s Little Poem

All of those who may
Forbid me to fly:
They will pass away
I'm passing by.

Poeminha do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho
Eles passarão...
Eu passarinho.



CRUZ & SOUZA – SKULL
The leading figure of the Symbolist movement in Brazil, Cruz e Sousa was the son of freed slaves. His poetry weds the technical principles of French Symbolism to themes drawn from his social concerns and his own personal suffering. This poem describes a skull, emphasizing that we are all the same, and the Death takes us all, either white or black.

Skull

I
Eyes which were eyes, two holes
Neither green nor blue, cold and dull...
Two dark eyeholes in a deep stroll
Skull!

II
Nose of delicate feature, insolent,
Shaped not to be lenient but cruel.
What's been done of the sweet scent?
Skull! Skull!!

III
Mouth of white teeth and lips
Kindly rounded, almost dull.
Where the smile, the laugh, the quips?
Skull! Skull!! Skull!!!

Caveira

I
Olhos que foram olhos, dois buracos
Agora, fundos, no ondular da poeira...
Nem negros, nem azuis e nem opacos
Caveira!

II
Nariz de linhas, correções audazes,
De expressão aquilina e feiticeira,
Onde os olfatos virginais, falazes?!
Caveira! Caveira!!

III
Boca de dentes límpidos e finos,
De curva leve, original, ligeira,
Que é feito dos teus risos cristalinos!?
Caveira! Caveira!! Caveira!!!



JOÃO CABRAL DE MELO NETO – from Death & Life Severina
"Morte e Vida Severina" (partially translated by Elizabeth Bishop as "Death and Life of a Severino", but for aesthetic reasons I think "Death & Life Severina" works better) is Cabral's most famous work, a very long narrative poem. The part I took here became a song sang by Chico Buarque de Hollanda, and describes the life of a poor country man in the dry northeastern part of Brazil, dreaming about have his own land.

from Death & Life Severina

The grave you are,
measured by strife
is the smallest share
you've got in life.

Neither wide nor profound,
Just the perfect range,
it’s the piece of ground
yours innately grange.

It’s not a big grave,
but measured and spared,
the land which you crave
one day to see shared.

It’s a big grave for your blunt
dead body, untied and uncurled,
you’ll feel yourself more pleasant
than you ever felt in the entire world.

de Morte e Vida Severina

Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.

É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.

Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.

É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.