3.11.10

Um Leminski, assim, à toa...

Land, Sea, Sky I - 16" x 16", Oil on canvas. M. Marcus A. Lopés, 2008

se
nem
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terra

se
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mar

20.10.10

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00101011 +
00101001 )

01100101 e
01100100 d
01110101 u

20.9.10

20092010

20092010 é hoje, nesta data neste "pattern"
20082011 que nos dois últimos anos venho
20072012 já há três hesitando, pensar pensando
20062013 se ainda há pelo menos mais quatro
20052014 de trabalho ou se em 5 ou 6 estarei
20042015 já fazendo o que vim aqui fazer...

12.9.10

os mal-vindos

Patricia A. Smith - "The Royal Treatment" 22" x 34" Acrylic on Bamboo Mat

Mandou eu me aprumar e tomar o meu rumo
Mandou eu apagar o cigarro que eu nem fumo
Mandou eu voltar sem saber se eu estava indo
Nunca é convidado mas se acha bem-vindo
Não viu e nem ouiviu, não sabe quem foi
Pela minha graça quer dar nome ao boi
Olha pro lado e aponta o dedo sorrindo
Não sabe de nada, mas vive  se exibindo
Tem o carro mais bacana, a mulher a mais gostosa
O dinheiro mais limpo, a merda mais cheirosa
Teu espelho tá quebrado e pensa que está tinindo
Assim que ele chega todos vão logo saindo
Chega no meio do papo e quer puxar assunto
Não sabe quem morreu mas quer velar o defunto
Diz que já fez, que já leu e que tudo conhece
É só papo furado, até o nome da mãe ele esquece
Numa realidade deturpada ele vive desconectado
Preste atenção Fulano, que vou te passar um recado
Antes mesmo de despertar para o seu eterno domingo,
Antes mesmo de chegar, considere-se mal-vindo.

Findo.

13.8.10

Yo no creo pero...


Segura a barra
A bruxa está solta
Não dê moleza
Ela pode estar na mesa

O dia inteiro
Até mesmo no banheiro
Ou de pijama
Dormindo na sua cama

Yo no creo en brujas
Pero que las hay, las hay

Yo no creo en brujas
Pero que las hay, las hay...

18.5.10

O Brinquedo Novo Do Filho Do Rei

Photo by Craig Heimburger, travelvice.com

Uma Saga Capitalista Através dos Séculos

Séc. XV

Quando veio ao mundo o filho do Rei
já veio dizendo ao que veio.
Trazia coriscos invisíveis nos olhos
e puas daninhas na língua,
sem corpo, face ou alma…


Séc. XVI

“Aonde estávamos quando nasceu o filho do Rei?”
“Não estávamos cuidando dos brotos de arroz,
que antes mesmo do nascimento do filho do Rei já não tínhamos terra”
“Então, o quê fazíamos quando nasceu o filho do Rei?”
“Íamos devagar, cansados, com fome e com sede,
e não chegamos a tempo de homenagear o nascimento do filho do Rei”
“Não há perdão nos negócios do Reino… é por isso que nos mataram.”

Se já eram fios de outros que trançávamos
e sementes de outros que plantávamos
(que plantações terão crescido? Que peças terão costurado?)
nosso desgosto já era por demais amargo,
ainda assim voltamos para nossa terra…
voltamos sob nossa terra, sob o domínio do Rei.


Séc. XVII

Quando pequeno, brincávamos no portão de casa,
nas terras que eram de meu pai.
Tanto brincávamos que não dava tempo de crescer a grama.
Brincávamos ao dia, brincávamos à noite,
e foi numa noite de alta lua
que pai partiu para o Reino, sob ordem do Rei.
Só sabia que era a trabalho, nada mais —
e trabalho pai não temia.

Depois foi a vez de mãe… partiu em busca de pai.
Pedi que mandasse notícia quando o encontrasse…
Minha dor em ver o capim crescer no portão
lembrando os anos avançados…
o Reino chegando cada vez mais perto,
quase invadindo meu coração, e sem trazer notícias.
Então, parti, nu, para o Reino, suplicar ao Rei:
“Amontoa meus ossos e os que me pertencem
num sepulcro junto à árvore da minha casa e grave:
‘Família sem nome e sem fortuna’ e ergue nele
o arado comum a todos os meus amigos.”
Mas o Rei não tinha corpo, face ou alma
e nossos ossos (não-polidos) não foram amontoados,
e amarelaram de tanto outono.

E algumas fogueiras se ergueram,
iluminando, com suas chamas,
alguns corpos, algumas faces, algumas almas…


Séc. XVIII

Creio que a vida será mais fácil
agora que não preciso galgar árvores
para vigiar a terra de bárbaros.
Toda terra e toda posse é presente nosso ao filho do Rei
(embora não daríamos nossa terras e nossas posses ao filho do Rei).

Nosso espírito repleto de afição não teve escolha…
nossos amigos já não conversam, não pedem mais o arado,
não falam sobre a plantação (que não são deles),
não conversam com suas mulheres (que às vezes são deles),
não conversam mais sobre nada (isto sim lhes pertence).

Algumas fogueiras (aquelas) ainda queimavam…
fracas labaredas aqui, outras mais fracas ali,
iluminando — embora menos — com suas chamas
poucos corpos, poucas faces, poucas almas…

Todos no Reino estavam ficando sem corpo, face ou alma.


Séc. XIX

O sol parece não querer brilhar mais no Reino,
e as trevas se tornam mais intensas que a luz.
O Rei mandou comprar um sol para seu filho,
e os privilegiados desfrutam o calor deste dinheiro.
Dizem que este é o único sol existente, por isso não brilha mais no campo;
terra morta separa o campo do castelo do Rei,
e é só isto que nos sobrou: invejamos nossos animais
que não sabem sofrer com o coração.
“Somos tuas almas também, não se desesperem!
Não há dor que não seja pouca ao filho do Rei”

Mas volumosa massa não pode sucumbir
e a intensidade desta fogueira e suas brasas, reerguem,
por braços fortes, a luz, que ameaça voltar e iluminar todo o Reino…
mas é impenetrável o castelo, onde os privilegiados
ainda cerram seus olhos fundos entre velas indolentes.


Séc. XX

Não contente com o sol, pela sua grandeza,
quis também a Terra, nossa alteza,
e esforços não foram medidos para que ela toda
coubesse no baú de brinquedos do filho do Rei.

E de posse do novo brinquedo, gargalhava o filho do Rei,
diminuindo terras, aumentando mares, queimando florestas,
em busca de novas emoções no seu brinquedo novo.
Peças caídas, afogadas e queimadas,
o que representam frente ao divertimento do filho do Rei?

“Não deve existir união (já que a Real não existe).
Não deve haver diversão (já que a Real é enfadonha).
Vizinhos e amigos, jamais (o filho do Rei não precisa disso).
Tudo deve girar em torno do Trono (expressão máxima da boa-ganhança).”

E pessoas eram tratadas como animais,
e na queda de uns, muitos haviam para se levantar.
Animais, pessoas e coisas…
nada era algo enquanto durasse o jogo do filho do Rei.

As trombetas anunciavam,
e o povo entorpecido espalhava a notícia:
“Submetam-se ao filho do Rei, ele é a esperança.
Esqueçam seus valores, suas posses, seus sentimentos
e abracem a vontade do filho do Rei.”

Mas o Reino se tornou maior que a esperança,
e à porta de todos não bateu a boa-venturança,
e os portões do palácio se fecharam (dando a impressão de abandono).
Só uma luz, no alto da torre, mantinha-se acesa…
o filho do Rei continuava seus jogos
cada vez mais sozinho… o grande vencedor.
Os outros? Meras peças de estratégia…
peões, cavalos, bispos e torres tombados em torno do Rei.

E o filho do Rei acumulou suas vontades, suas malícias, suas bonanças…
Mas não havia o que fazer com elas,
e as coisas se tornaram difíceis e custosas,
e o Rei e seu filho ficaram sozinhos,
com o mundo prostrado aos pés do trono.

E daquela fogueira que só brasa restou,
um vento de tão forte fúria labaredas favoreou
que logo, em chamas intensas se tornaram,
e todo o Reino já morto, o palácio, o Rei e seu filho enfermo
foram envolvidos pelo fogo daquele inferno.


Séc. XXI

Agora sim, o nada se consolidou… apenas cinzas,
levadas pra cá e pra lá pelo vento calmo.
Foram muitos anos até que a primeira planta brotasse,
não se sabe de onde… muito menos de onde soergueu aquele homem,
já com uma enxada na mão a mexer a terra, e depois outro homem, e outro…
e cresceram plantas, ergueram-se animais, ergueram-se gente,
construindo casebres, juntando-se em aldeias,
vivendo da terra, da água e do ar.

Até que um desinfeliz oferece trocar um porco por três enxadas…

29.4.10

Get 'Em Out By Friday


(Banks/Collins/Gabriel/Hackett/Rutherford)

[John Pebble of Styx Enterprises]

"Get 'em out by Friday!
You don't get paid till the last one's well on his way.
Get 'em out by Friday!
It's important that we keep to schedule, there must be no delay."


[Mark Hall of Styx Enterprises (otherwise known as "The Winkler")]

"I represent a firm of gentlemen who recently purchased this
house and all the others in the road,
In the interest of humanity we've found a better place for you
to go, go-woh, go-woh"


[Mrs. Barrow (a tenant)]

"Oh no, this I can't believe,
Oh Mary, they're asking us to leave."


[Mr. Pebble]

"Get 'em out by Friday!
I've told you before, 's good many gone if we let them stay.
And if it isn't easy,
You can squeeze a little grease and our troubles will soon run away."


[Mrs. Barrow]

"After all this time, they ask us to leave,
And I told them we could pay double the rent.
I don't know why it seemed so funny,
Seeing as how they'd take more money.
The winkler called again, he came here this morning,
With four hundred pounds and a photograph of the place he has found.
A block of flats with central heating.
I think we're going to find it hard."


[Mr. Pebble]

"Now we've got them!
I've always said that cash cash cash can do anything well.
Work can be rewarding
When a flash of intuition is a gift that helps you
excel-sell-sell-sell."


[Mr. Hall]

"Here we are in Harlow New Town, did you recognise your block
across the square, over there,
Sadly since last time we spoke, we've found we've had to raise
the rent again,
just a bit."


[Mrs. Barrow]

"Oh no, this I can't believe
Oh Mary, and we agreed to leave."


(a passage of time)

[18/9/2012 T.V. Flash on all Dial-A-Program Services]

This is an announcement from Genetic Control:
"It is my sad duty to inform you of a four foot restriction on
humanoid height."


[Extract from coversation of Joe Ordinary in Local Puborama]

"I hear the directors of Genetic Control have been buying all the
properties that have recently been sold, taking risks oh so bold.
It's said now that people will be shorter in height,
they can fit twice as many in the same building site.
(they say it's alright),
Beginning with the tenants of the town of Harlow,
in the interest of humanity, they've been told they must go,
told they must go-go-go-go."


[Sir John De Pebble of United Blacksprings International]

"I think I've fixed a new deal
A dozen properties - we'll buy at five and sell at thirty four,
Some are still inhabited,
It's time to send the winkler to see them,
he'll have to work some more."


[Memo from Satin Peter of Rock Development Ltd.]

With land in your hand, you'll be happy on earth
Then invest in the Church for your heaven.

23.4.10

Bodas de Madeira

é o que dizem de 5 anos de casado.


5 anos... 12 anos... 22 anos...
nos conhecemos em 1988, namoramos em 1998, casamos em 2005
e ainda tenho aquelas sensações dúbias:
conheço-a há muito, muito mais tempo,
parece que por toda a minha vida a conheci,
e ainda assim me pego descobrindo coisas novas
de quando em vez!

Parabéns para nós, amorzinho...

9.4.10

vintedez

vintedez, vintedez, vintedez, vintedez,
e nessa vamos, de uma todas por vez
eu não me fiz, mas ajudei outra ou vez
vintedez, vintedez, vintedez, vintedez,
até agora sem meter as mãos pelos pés

não foi eu, não foi eu, não foi eu, não foi eu,
ficaram navios a ver com o vigário do conto
ela não se engana, depois o samba primeiro eu
quem tem Roma vaia a boca; de Minerva do voto:
falei mas não fui eu, não fui eu, não fui eu.

3.3.10

Vem pro Piauí você também, vem!


Quando eu crescer, vou querer morar no Piauí,
ser porteiro, motorista recepcionista, e daí?
Com custo de vida baixo, mais baixo que o daqui
e salário bom pra fazer quase nada, tem vaga aí?
Quando eu crescer, vou querer morar no Piauí!

Só tem que ser conhecido de algum barão
e se for parente nem precisa bater cartão
até amigo do vizinho da quenga do irmão
tem direito à mordomias e salário bom.
Só tem que ser conhecido de algum barão!

22.2.10

22022010

Chinese Numbers - Lauren Luna
se de contar anos já me confundo
mundo impuro & de números composto
supostos seres que não contam mas fingem
cingem as ramas & tramas de desafetos
ereto cabresto em pau-a-pique de contaridade
contrariedade de quem pode ou não pode o que
desfazer ou fazer sem perguntar o quanto
tanto sim ou tanto não se tem de bom e força
da morsa que tanto aperta quanto afrouxa
babalorixá de mim mesmo, desde que nasceste
embora não parecesse, tão vivo ou tão morto
tampouco mais ou menos torto, não faz diferença...
e ainda assim tens muito o que melhorar... ah se tens!
este teu jeito cangaceiro de discurso-peixeira
ainda arauto galgo de coisas & sofrimentos
+ de tudo, então tu, esmo esborro, fidalgo dalgo incerto,
valgo de tu mesmo, quinta parte ou sesmo do que pretendias inteiro,
sendeiro oscuro & ebscuro, danado de errado e bom, que não aprendeu
a contar de dez a um, mas de vez por todas & que sempre já soube:
só mais um... só mais um... para sempre só mais um...
aí solitarionauta partes em busca desafreada a caçadas insanas
deshumanas e deshalmadas por todos os futuros hontems e passados ojes
de todas as almas (inumanas) que poçã hexistir, fossa himunda
de todos os apegos e (de)formações: todamágoa, todorancor, todaraiva
- aquela mesma que nos mata em cada dia dos nossos dias -
e a palavra cotidiana desprezada, que embora já seja palavra apenas,
é da boca pra dentro, e inunda de boa vontade os interiores,
e como sabemos, de boa vontade em boa vontade se vai ao longe,
embora não adiante muito o bonde...

parabéns pra você.